quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

...que 2008 queime logo...




Lembro-me do final do ano passado quando eu implorava ao tempo que levasse aquele ano embora. Enchia-me de esperanças sobre o novo ano que as luzes nas ruas, o comércio e as chamadas de TV anunciavam. Eu estava completamente saturado daquele ano de extremo acumulo de problemas, e a simples passagem de 07 para 08 parecia ser a solução para tudo. Mas eu não sabia que tudo aquilo era apenas anuncio para o que viria...
Até 2007 eu afirmava com orgulho, nunca ter me decepcionado com alguém querido. Em 2008 eu pude sentir a intensa dor de ter a confiança quebrada em pedaços por varias vezes. Estive descrente nos valores éticos e sentimentos de afeto, acreditando que qualquer banalidade era capaz de romper tais princípios. Felizmente aprendi a conviver com os erros e percebi que eles sempre estiveram presentes, apesar de só terem dados às caras pra mim em tal momento. Junto a isso varias decepções caminharam ao lado, e o que eu sinto agora faz parte do acumulo de problemas desse ano.
Eu sinto o desprezo de muita gente que parece não me achar digno nem de ódio, gente que permanece com os olhos revoltosos fugindo dos meus. Eu não sei se é paranóia, mas parece que muita coisa fugiu de mim, muita coisa me despreza. E só eu sei o quanto isso tem me machucado... Sinto-me pequeno.
Que permaneça uma ingênua esperança, e que 2008 queime logo...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008




Caminhando eu avisto no meu horizonte uma neblina intensa ofuscando a minha óptica real da loucura.
Sei que caminho avante a solidão, e tenho medo.
Não quero ficar só, mas as mãos dos meus amigos e amores estão se afastando.
Aproximo-me da intensa neblina (estou cada vez mais só), e ao chegar mais perto revejo todos os meus amigos e amores.
Os olhos deles se desviam dos meus, suas expressões são de repudio, me sinto rejeitado e errado, mesmo sem saber qual foi o erro.
Mantenho-me de pé ao observar que ainda há quem me olhe nos olhos e estenda as mãos pedindo um abraço. Então, com a ajuda deles, caminho para fora dali deixando pra trás gritos de agonia.

Avisem os poetas românticos que o mundo é podre.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A alma deserta...




Mesmo a distância, é possível ver em teus olhos, é possível sentir na tua voz exausta e triste. Pedindo perdão ao mundo, carregando o peso de todos os crimes nas costas, se crucificando para pagar todos os pecados que já realizou.

Dói-me muito ver-te de joelhos diante dos mais desmerecedores habitantes de nossas vidas, dos mais filhos da puta.

A infelicidade estará sempre com aqueles que não sabem perdoar, tendendo sempre a grandes decepções e a solidão, porque errar é humano.

Não se aprende sem pecar. As pessoas não precisam carregar cruzes pelos arrependimentos, não é do nosso fado, não somos todos Jesus Cristo. Basta o aprendizado, basta o arrependimento.

Queria segurar em tuas mãos e ajudar-te a levantar, abraçar-te, olhar nos teus olhos e calar tua boca com um beijo. Porque o orgulho não deve ser maior que o amor.
Mas eu sou a outra face da moeda, a insignificância, a pedra, o obstáculo do caminho. Não importa o que eu quero, não importa o que eu sinto, não posso me mover ou serei derrubado. Eu me deixaria ser teu anestésico, pra te curar e quem sabe acabar com meus excessos, minha insônia e esse vazio.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O excesso e a falta




Excesso
Substantivo masculino
1.Diferença para mais entre duas quantidades.
2.Aquilo que excede ou ultrapassa o permitido, o legal, o normal.
3.Sobra, sobejo.
4.Redundância.
5.Violência, desmando.
6.Extremo, cúmulo.

Falta
Substantivo feminino
1.Ato ou efeito de faltar.
2.Ausência.
3.Morte, falecimento.
4.Privação, carência, carecimento.
5.Culpa, pecado.
6.Erro, engano.
7.Imperfeição, defeito.
8.Inobservância de preceitos legais e regulamentares, de obrigações contratuais, de deveres sociais, de diligência e lealdade, etc.
9.Transgressão da regra de um jogo ou esporte; infração.
10.Chute, arremesso ma-nual ou jogada a que o adversário tem direito, como punição dessa transgressão; infração.


A relação entre essas duas palavras é incrível. São antagônicas, mas podem até se justificar.
Ao dizer que eu me “excedia”, me disseram que era a “falta”, que à falta leva ao excesso. E isso fez bastante sentido pra mim.
Minhas frustrações, pessoas que se foram e pessoas que ainda vão, eu tento recompensar me excedendo no que ainda tenho.

Na infância eu acreditava que ao me tornar adulto os “monstros psicológicos” ficariam menores e mais fracos, mas os sinto maiores, crescendo, prontos pra me engolir.

Nunca me senti tão só. Nunca tive tanta gente por perto.
Nunca precisei tanto de um abraço. Nunca fui tão hostil.
A falta. O excesso.

A falta tem me levado ao excesso, quero aproveitar o que tenho ao máximo com meus excessos, me desgastando, antes que falte. Tolice.

Disse que é a falta. Será que sabe o que falta? Eu sei.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Lá vai, lá vem...




Já é outubro há oito dias. Lá se vai o tempo levando tudo que há de bom.
Mas não me importo, o que é ruim também já anuncia partida.

Hoje eu me senti como não me sinto há tempos. Vazio, cheio de “por quês” e “sei lá”.
Deite-me, tentei entender porque eu me sentia assim e vários questionamentos vieram a minha cabeça.
Nas ultimas semanas me entreguei totalmente as minhas vontades inconseqüentes. A principio foi ótimo, um verdadeiro tesão a todo os instantes. Passadas três semanas, eu me sinto saturado de tudo isso, cansado de mim, das minhas atitudes e de tudo que me fazia sentir prazer. Tornar meus prazeres rotineiros tirou consideravelmente parte de seu valor.
Então é hora de ir retirando devagar o pé do acelerador e tragando o cigarro com paciência e verdadeiro prazer, sempre observando tudo que há ao redor em busca de novos prazeres.

Preciso voltar a crer em mim, nas pessoas e nas coisas boas.

sábado, 9 de agosto de 2008

Desistir como?




A sensação de ter alguém com a sua felicidade, mesmo que instantânea nas mãos, é horrível. Ainda mais se essa pessoa talvez souber o que dizer e o que fazer pra te deixar bem, mas fizer exatamente o contrário. Talvez não seja culpa da pessoa, mas eu gosto das coisas claras.
É preciso estar atento e não deixar seus sentimentos jogados por aí, à altura de qualquer um que tenha mãos para alcançar.
O quanto às coisas são surreais, o quanto são inimagináveis, o quanto pode acontecer em dois meses.
Eu me sinto tolo.
Como se herda tamanho sentimentalismo e tamanho apego?
Não desisto fácil, por mais que um par de pés esteja sobre a minha cabeça pisoteando sem dó, cheios de “sei lá”.
Enquanto isso eu me afogo em agonia, com sentimentos entalados no pescoço prontos pra se transformar em rios de desabafo.
Essas coisas a gente não aprende mesmo.
Eu queria um tempo longe de tudo que possa ser tentador para a minha mania de mediocridade. Pra poder voltar, acabar com esse coma e ter apenas as cicatrizes pra na hora certa me lembrar “opa, não vá fechar os olhos outra vez, rapaz”.
Eu não desisto, eu consisto e eu me diminuo por isso.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Finda tempestade, o sol nascerá





Acabou, e da pior forma possível.
Mas pouco me importa agora.
É incrível como a melhor pessoal do mundo pode se tornar a pior!

Passou como quis...


Como sempre passam...

terça-feira, 8 de julho de 2008

Três pontos




[...]


Três pontos para tudo que eu não quero falar...

sábado, 5 de julho de 2008

A Fonte




Quando eu aprendo?
Quando a fonte secar.

Talvez seja por puro medo e precaução,
Mas provavelmente...

Embaralhar minha cabeça dessa forma
Certamente não é o melhor jeito de seguir.

Pra que tantas incertezas?
Quais são os erros?
Começo a achar que o erro sou eu
E meus conceitos do mundo.

Melhor seria o repudio.
Queria liberdade.
Acabar todos os princípios morais que atacam meu inconsciente e consciente.
Me entregar aos princípios da libertinagem.
Descartando a relevância da não reciprocidade dos sentimentos.

Chega de incertezas!
Eu quero um sim com todas as letras.
Eu quero um não com acento e tudo.
Não quero um não sei.

- Heim?!
- Não sei!
- ...
- ...
Não faz sentido.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Quando o adeus é adeus




Maria Alice aguardava-o ansiosa. Mas não por vê-lo e sim pela resolução daquilo que já havia se tornado claro e insuportável.
Ao contrário de outras vezes onde haviam combinado de se encontrar, dessa vez ela se adiantou.
Pedro chegou simples e elegante, com sua camisa social bem passada, sua calça jeans adaptada, seu sapato preto singelo e seus cabelos lisos bem penteados. Já Maria Alice, sequer havia se dado ao trabalho de passar um batom de tanta ansiedade.
Ao avistar a mesa onde se encontrava Maria Alice, Pedro demonstrou surpresa, mas ao mesmo tempo felicidade com a presença antecipada da moça.
- Meu amor, parece que hoje você acertou o relógio, não é?! – disse em tom de brincadeira.
- É. – disse ela friamente.
- Pois então – ele disse – qual o assunto inadiável que você tinha para abordar?
- Bom, é que... Não sei por onde começar.
- Tenho uma dica, comece pelo começo.
As piadas sem graça de Pedro naquele momento faziam com que Maria Alice pensasse que se tivesse ali um revolver atiraria sem receio. Mas de certa forma a irritação que a piada causou foi um empurrão para que ela, mesmo sem revolver, pudesse atirar.
- Pedro, eu não te amo!
Pedro ficou em silêncio, abaixou a cabeça e ao levantá-la havia se transformado totalmente. Toda sua singela elegância desapareceu, seus cabelos bem penteados se rebelaram e seus olhos ficaram vermelhos.
- Mas ontem mesmo você me disse o contrário!
- Eu não me compreendia.
- E se baseava em incertezas para falar de sentimentos comigo?
- Minhas palavras eram sinceras mesmo enquanto mentiras.
- Não compreendo.
- Fui enganada por mim tanto quanto você foi.
- Não sobra nada do que havia me dito?
- Eu me enganei, usei você como apoio para a dor que eu sentia de um amor que é realmente verdadeiro.
Pedro começa a se alterar assustando as mesas ao lado.
- Eu exijo que me ame!
- Essas coisas não se exigem, se cativam.
- Então como eu fico?
- Não fique, vá.
- O que você esta fazendo é cruel, esta me destroçando.
- Não sinto pena, parece egoísta e cruel e é um pouco dos dois.
Pedro levantou-se revoltado e partiu.
Depois disso, nunca mais Pedro viu Maria Alice e nunca mais Maria Alice viu Pedro, ou pelo menos fingiram não se ver.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Samba pra Quarta-feira de Cinzas




Meu bem não vá pedir
Pra eu ser feliz
Se nada do que tive
Foi o que quis
O vento me proclama eternamente esta tristeza enfim

Não vou acreditar
No lado bom
Eu sei que a sina vã
É o que restou
E tudo que ofereço a ti agora é a minha dor

Abuse desse lenço e enterre suas magoas
Despida dessa vida mergulhe nessas águas
O tempo esta passando
Não ligue pros confetes no chão

As flores das janelas tão eternas exaltadas
A doce elegância esta caída nas calçadas
O tempo esta passando
E chega de carnaval pra mim

Não fique triste amor
Não é o fim
Espante agora a dor
Que há em ti
Pois tudo que passou é só matéria pro futuro de nós dois

Não vá desacatar
O que restou
Eu vejo a luz no céu
A nos dizer
O novo tom da vida, um belo rumo pra recomeçar

Abuse desse lenço e enterre suas magoas
Despida dessa vida mergulhe nessas águas
O tempo esta passando
Não ligue pros confetes no chão

As flores das janelas tão eternas exaltadas
A doce elegância esta caída nas calçadas
O tempo esta passando
E chega de carnaval pra mim


Experiências ruins sempre deixam lições e até coisas belas.
Essa canção é um exemplo disso.
Uma pessoa e uma situação me inspiraram pra isso.

domingo, 20 de abril de 2008

Livre


Toda sapiência para ser livre.
O caminho não é mais oculto.
Posso vê-lo mesmo sem meus óculos e com toda a minha miopia inserida.
Sinto o vento me acariciando.
São os braços longos que percorrem todo o caminho para me guiar até o fim.

Como é bom estar livre da impulsão daquele sentimento.
A percepção aguçada atual das coisas me ensinou como nunca mais devo agir.

Não me entrego mais a qualquer caminho que parece melhor.
O caminho melhor é aquele que me recebe de braços abertos.

Eu não perdi.

Dê valor a quem se ama, mas não se esqueça de amar a você mesmo.

Um dia talvez, você vá perceber o quanto desperdiçou pessoas que te faziam bem. Espero que não seja tarde.

É hora de manter-se em branco.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Perda e Cinismo




O homem nasce totalmente preparado pra ganhar. Sabe exatamente o que fazer para comemorar quando se vê em tal situação.
No entanto, ao perder, se sente caindo em um abismo, dramatiza a queda ao máximo até que enfim chegue ao chão.
Como homem, tenho sentido bastante essa “minha teoria” ultimamente.
A dor da perda é absurda. Tanto na morte quanto no amor.
Felizmente, alguns fatos têm evidenciado que essa minha perda (que não quero citar agora, mas que talvez alguns de vocês possam supor) não foi na verdade uma perda, mas sim um ganho de liberdade quanto a um sentimento sobre alguém que nunca existiu.
Eu odeio o cinismo e suas variadas formas de aplicação. Mesmo que seja na intenção de agradar uma pessoa. Foi mais ou menos o que fizeram comigo.
Cheguei a apostar no caráter da pessoa, mesmo após descoberto isso, mas a cada dia percebo mais e mais que não vale a pena se importar com alguém que é uma pessoa um dia com você em uma conversa bastante agradável e no outro dia vira a cara descaradamente ao te ver com uma expressão irritante de nojo.
Não sei ao certo definir o que se senti; magoa, raiva ou desprezo, mas de qualquer forma a percepção causada após uma atitude dessas é de que não vale a pena prezar uma pessoa com esse tipo de caráter instável.
A perda causa saudade e um enorme apego ao passado, algo que nunca é bom, já que o passado nós já escrevemos.
A conclusão que tirei desses “chicotes” que a vida me deu através dessa pessoa, é que devo sim (como tenho feito) tirar proveito do que o presente proporciona ao meu redor e que muitas vezes deixei passar por me focar em algo que eu achava ser maior e por isso perdia um acumulo importante de detalhes que me fariam feliz.
A paixão passou como era de se esperar. Isso foi fácil após a queda da máscara. E agora sequer entendo o porque de um dia ter existido tal paixão.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O Não as Cores das Flores




- Acorde... Acorde... Acorde.
- Não quero. Não posso.
- O que se passa?
- Não se passa, e é por isso que não quero.
- Não vê que as flores podem perder a cor lá fora?
- Não me importo. Se eu mesmo já não tenho cor, o que me importa se as flores tenham ou não?
- Não sabe o que esta dizendo. Não há nada mais triste no mundo que flores sem cor.
- Não vou estar lá para ver e não me importo com quem esteja.
- E essa agonia que toma seu peito? Diga-me então se é verdadeira.
- Uma verdade superável enquanto eu não acordo.

(...)

- Acooorde... Acooorde.... Acooorde!
- Não.
- Faltam poucos minutos pra que a cor vá embora. E como fica o surreal? E como fica o surreal?
- Vai sumir e voltar a ser surreal, até que alguém descubra mais uma vez o que é surreal e transforme de novo o surreal em real.
- Te falta consciência, rapaz. Não sabe das conseqüências quanto a essa sua atitude descabida?
- Sei sim. Mas não saberei mais. Deixe-me com o meu sono e se foda.
- Não. Você precisa ajudar.
- Não gaste tempo persistindo. Anuncio então minha partida.


.

Hoje percebi que carregarei uma dor por alguns dias, meses ou anos. Não posso prever.
E que por mais que eu peça ajuda, ninguém poderá me ajudar.
Só o tempo e o vento podem evacuar esse espaço cheio de saudade, raiva e afeição que condensados formam tanta dor.

segunda-feira, 24 de março de 2008

A ilha


Numa ilha deserta.
É onde eu gostaria de estar. Para pensar, para me apegar a mim mesmo, para adquirir orgulho. Para me amar.
Vivendo por mim e para mim, sentindo a minha importância.

Eu definitivamente não valho muita coisa.
E ainda quero que gostem de mim. Impossível.
Como alguém pode conseguir se nem eu consigo?

Já tive essa sensação de fracasso antes, até mais intensa, mas acho que sou muito novo pra me sentir tão fracassado assim. Como pode?

Não consigo nada que do quero, meus sonhos, desejos, quereres, ambições, vão sempre por água baixo. Ta bom, é até exagero, mas nem tanto.

E lá vem mais uma decepção, mais uma dor.

Eu amo meus amigos. Queria ver em mim o que eles vêem.

Enfim, sinceras e humildes desculpas a Lady.
Fui apenas mal interpretado. Não foi aquela a minha intenção.

sábado, 22 de março de 2008

O Escritor e o Leitor




Era mais uma segunda daquelas em que ele saía de casa atrasado pra tomar o café na esquina. Ou pelo menos parecia ser.

E lá estava ele, com seu café e sua rotina.
Ali sempre passava um casal de velhinhos com um saquinho de milho nas mãos da senhora, iam até a praça onde ficavam abraçados dando milho aos pombos. Dois estudantes, um garoto e uma garota, passavam de mãos dadas rumo também à praça onde matavam aula. E quase na hora de ir para o trabalho um senhor passeava com o cachorro com toda elegância do mundo. Mas aquela manhã foi diferente.

Uma mulher de estatura mediana, cabelos vermelhos e longos, branca e usando um óculos com bordas azuis, passou em frente à padaria com toda serenidade do mundo, mas sem notar que dentro da padaria um rapaz a observava sem piscar os olhos, chegando até a entornar o café que bebia. Ela passou, e ele ainda a via. Depois disso não viu mais a senhora, não viu mais o casal de garotos e nem reparou que pisou em um objeto que o cão do senhor elegante deixou pelo caminho.

No trabalho não conseguia se concentrar. Só conseguia pensar naquilo que ele dizia ser, “a personificação do amor”. Tinha medo de que essa garota não fizesse parte da sua rotina constante. E quanto mais contava os segundos pra manhã do dia seguinte, mais longe parecia estar da manhã seguinte. “E se ela for comprometida?”, “e se ela não gostar de mim?”, “pior, e se ela for lésbica?”. Pensamentos assim sequer o deixaram dormir.

Finalmente, era manhã. E ele não se atrasou, pelo contrário, se adiantou até a padaria. Pediu o seu café como fazia todo dia, sentou-se no banco com a melhor vista pra rua. E lá veio o casal de velhinhos, o casal de garotos e o senhor elegante. Começou a se preocupar, e quando ia se virar para pagar o café, lá estava ela, a “personificação do amor”, e ele precisava saber seu nome, não conseguia se imaginar com ela na cama a chamando de “personificação do amor” ou “personificaçãozinha do morzinho”, era broxante.

Lá foi ele, todo atrapalhado, se aproximou tão rápido que ela ficou assustada. Não sabia o que dizer, não queria parecer mais um idiota que se aproximava dela pela beleza, porque sim, deviam haver muitos. Então resolveu começar pelo nome.

- Olá, qual o seu nome?

Ela lançou um olhar estranho pra ele, pensando se seria mais um idiota que se aproxima pela beleza, ou mais um desses caras que fazem cartões pra bancos.

- Roza, por quê?

Faz sentido que seja uma flor - ele pensou e conteve-se pra não dizer.

- Ah, você teve a ousadia de quebrar minha rotina passando por aqui, então eu precisava saber seu nome.

Roza se assustou mais ainda.

- E você acha mesmo que o mundo gira ao redor do seu umbigo assim? Falou em tom irônico.

- Não, você não entendeu bem. O mundo até que me fez um grande favor te colocando em minha rotina. Desde ontem que não penso em outra coisa que não seja te ver de novo. A gente acaba se conformando com uma rotina e quando avistamos coisas novas lembramos que o mundo é bem maior do que a vista do café na padaria.

Que cantada mais maluca. Bom, mas pelo menos foi original - ela pensou e quis ser simpática.

- Ah sim, e seu nome qual é?

- Eldis, prazer. - disse sorrindo.

-Prazer, Eldis. Agora já vou indo, preciso trabalhar - e virou-se.

- Ei, espere.

Ela se virou

- Diga.

- Pode me dar seu telefone?

Ela parou, pensou e disse num tom irônico mais uma vez:

- Claro.

Ele então pegou o celular e esperou ansioso que ela dissesse o numero.

Ela disse então o número e reparou que ele havia digitado “Roza” com s:

- Eldis, meu nome é com z – sorrindo.

- Com z? – assustado.

- Sim, acho que o cara do cartório era analfabeto. Mas acabou sendo legal, porque “rosa” com “s” tem aos montes já com “z” sou só eu.

- É verdade. O meu nome era pra ser Elvis e não Eldis, mas o cara do cartório havia bebido demais.

- Sério?

- Não. Mas eu gostaria que fosse.

Os dois riram até Roza interromper.

- Agora já vou indo, nos falamos quando você ligar. Até.

- Até.



E mais um dia de trabalho perdido. Além de ter chegado atrasado, estava ansioso demais pra se concentrar. Queria chegar logo em casa pra fazer a ligação. Chegou então em casa e foi direto ao telefone. Tocou, tocou, tocou e nada. No dia seguinte esperou na padaria se atrasando mais uma vez, e nada. E assim se manteve por semanas, agoniado, sem notícias, querendo vê-la.

De repente, se deu conta de que ela não daria o número para um estranho e desistiu. Ainda havia ali um fio de esperança, pelo seu lado sentimental, de vê-la, mas a razão o torturava dizendo que era o fim.

Então nunca mais ele...



Leitor:



Por favor, senhor escritor. Sei que meu papel aqui é de mero leitor. Mas devo interferir na trama e interceder por quem ama.

Dê a esse pobre rapaz o destino que quiser, mas prometa que no fim ele ficará com a mulher.




Escritor:



Me apaixonei pela arte de escrever exatamente por poder brincar de Deus. Quanto mais Deus me castiga, mais eu castigo meus personagens. Então deixe-me terminar do meu jeito essa história e recoloque-se no seu lugar.


Continuando:



Então nunca mais ele teve paz, depois que viu aquela Roza.

sexta-feira, 21 de março de 2008

O Rumo da Loucura


Acordei e eu estava aqui.
Os meus sonhos abstratos deram lugar á uma inundada e chocante realidade.
Eu sabia que aqui o meu inconsciente não tinha o que queria e por isso me torturava, me levando a cometer loucuras pelo seu prazer. Por conta disso eu fui perdendo o controle, o meu inconsciente travava uma batalha contra o meu consciente, era a razão contra os sentimentos. Eu era apenas palco pra isso tudo, a única forma de reagir seria atirar na minha própria cabeça, mas isso estava fora de cogitação, pelo menos por enquanto.
A razão estava fraca e o sentimento cada vez mais forte, meu corpo fervia, minhas atitudes eram infundadas, não me enxergava mais no espelho. Um cara nada teórico, sempre prático, capaz de fazer tudo pelos seus prazeres inconscientes. A razão, apunhalada, perdia muito sangue e agonizava aos poucos, até o seu último suspiro. E foi assim que eu enlouqueci.

Amigo de Imaginância


Volta a solidão, volta a imaginação.

Um Homem de cabelos longos e atrapalhados, trajando um macacão jeans desbotado, está sentado numa cadeira junto a uma mesa de madeira. No fundo, ouve-se a trilha do tédio, o barulho das gotas de uma torneira mal fechada, quando o homem finalmente dá sinal de vida. Ele se levanta, pega um envelope, uma caneta e uma folha de papel, coloca a mão sobre o rosto e começa a escrever:

Caro amigo;
Veio à saudade bater junto ao peito, depois de exatos 40 anos que não nos vemos.
Nossa amizade de infância foi algo que realmente marcou minha vida. Soube que ainda mora na mesma casa em que passei divertidos momentos com você, estou te mandando essa carta para avisar que te farei uma visita.
De seu amigo de infância, eternamente,
Thedy.

Ao terminar de escrever a carta o homem preenche corretamente os espaços do envelope e coloca a suposta carta dentro do envelope, cola o envelope com sua saliva e levanta, então ele abre a porta de casa, pára, e observa sua própria caixa de correios com a estranheza de quem nunca havia visto está, ele caminha em direção, abre a caixa, coloca o envelope dentro e fecha a caixa, volta para sua casa, deita em sua cama e dorme.

Na manhã seguinte, o homem levanta, abre um sorriso e sai da sua casa em direção a caixa de correios, ele abre a caixa e com a estranheza de quem nunca havia visto aquele envelope, o retira de lá com um sorriso no rosto. Ele carrega o envelope para dentro da casa, senta em sua cadeira, rasga o envelope, retira a carta e coloca o envelope sobre a mesa de madeira. O homem lê a carta com a estranheza de quem nunca havia lido tais palavras e então abre um imenso sorriso no rosto. Ele recoloca a carta dentro do envelope e coloca o envelope dentro de uma gaveta, senta de novo na cadeira e olha para cima, então ele bate com sua mão fechada debaixo da mesa de madeira simulando batidas em uma porta de madeira: “toc toc toc” e grita:
- Já vaaaai!
O homem levanta, abre a porta e abre lentamente outra vez o seu sorriso como se não acreditasse no que vê e diz:
-Não acredito que é você, Thedy!
Lá fora não se vê nada e então o rapaz abraça esse mesmo nada e convida esse mesmo nada para entrar:
-Entre, Thedy, Entre!

O Covarde


Estava descabelado, andava cambaleando e seus olhos vermelhos eram conseqüência das drogas e lágrimas daquela noite. Sua roupa social, sempre elogiada pelos vizinhos, estava desengonçada.
Finalmente chegou em casa. Soluçava e tremia enquanto tentava colocar a chave no buraco da fechadura. Depois de alguns segundos, finalmente conseguiu.
Ao dar o primeiro passo para dentro de casa deixou seu corpo cair, se contorcia no chão, chorava e soluçava.
Podia-se ouvir entre os seus choros e soluços:

- Pra que veio, amor? Pra que veio se não foi pra amar? Porque me tomou de tal maneira que eu não posso voltar?

Ele levantou e escorando na parede seguiu até o quarto, mais uma vez deixou seu corpo ir ao chão. Arrastando ele se aproximou de um armarinho onde pegou o telefone, digitou uma seqüência de números e aguardou soluçando que atendessem. Ao atenderem disse:

-O adeus que você me deu doeu, levou de mim o meu eu, minha vontade de viver, de seguir em frente. O adeus que te dou também doerá em você, mas esse não pelo amor, mas pelo remorso de não me amar, um remorso de uma coisa que na verdade sei que você não tem culpa.
Meu adeus é covarde, porque sempre fui covarde, não tenho coragem de viver assim. E só o fim é um alívio.
Adeus...


Ele então solta o telefone mesmo sem desliga-lo e segue se arrastando até o armário, abre a porta do armário e jogando todas as roupas ali presentes para fora, pega no fundo do armário um revólver, que lhe faz dar um tempo no choro, respirar fundo e admira-lo.
Escorando na parede ele levanta, coloca a arma na boca e atira.

Sem Sentido


Chegou a sua casa um pouco mais tarde que o horário de costume. Sua expressão abalada era conseqüência das reflexões durante o longo caminho do emprego até lá. Primeiro ligou a tv e abaixou totalmente o volume. Logo depois ligou o som e colocou um cd do Led Zeppelin no último volume. Acendeu um cigarro, pegou um cinzeiro e assentou-se.

Não sentia mais nada, pois o mundo estava menor ali. Não sabia que nesse mesmo instante um terremoto destruía o mundo. A terra tremia, mas ele não sentia, estava concentrado na fuga de suas reflexões. Não havia mais tv, não havia mais Led Zeppelin, mas ele estava distante demais pra perceber. Sua casa desabava, até mesmo atingindo-o, mas ele não sentia. Dentro do seu mundo o que havia era um grande branco contornando as verdades e mentiras que o abalavam. Os destroços ao seu redor não tinham sentido e se identificavam com ele. Isso justificava a sua vida enquanto todos daquele mundo já haviam morrido.

Quando já havia dado a volta em sua mente, despertou. Já não havia mais terremoto, somente os destroços, que já o tinham como amigo. Abriu os olhos, e viu um imenso nada.
Disse:
- Agora todo o meu egocentrismo faz sentido.
E então sorriu.