domingo, 20 de setembro de 2009

Ao Dobrar a Esquina


Ao deitar a cabeça no travesseiro percebeu que não conseguiria ficar ali. Seus pensamentos estavam a mil por hora, e quando isso acontecia não conseguia ficar parado. Levantou e decidiu se perder por aí.

Era infinitamente vaidoso, tanto que por se achar feio sorrindo, evitava sorrir. Mesmo assim saiu sem pentear os cabelos. Seguiu sem rumo pelas ruas pensando em tudo que estava acontecendo sem conseguir organizar o que pensava. Ao se deparar com duas opções de ruas, se viu diante de mais um problema e parou. Percebeu que se não se livrasse dessa nova pedra no caminho, não se livraria das rochas. Então, com o argumento de ser canhoto, decidiu-se pela esquerda.

Ao dobrar a esquina, olhou o relógio e percebeu que já não a amava mais. Assim aconteceu, eram duas da madrugada em ponto e ele já não a amava mais. Não entendia o motivo, se perguntava como isso pode acontecer, mas se sentia aliviado.

E como ele explicaria pra ela? Ele realmente se importava, pois não queria vê-la sofrer. Já havia passado por uma situação parecida que não lhe fez bem. Se perguntou também se ela sofreria, e imediatamente respondeu que não importava, ele precisava de uma justificativa.

Pensou no que teria acontecido se tivesse escolhido a direita por não ser destro, pensou ainda no que teria acontecido se não tivesse olhado o relógio e então concluiu com ingenuidade que se suas escolhas tivessem sido diferentes, não teria deixado de amá-la. Tinha então sua justificativa, diria isso a ela. Ele sorriu até perceber que estava sorrindo e decidiu voltar pra casa.

Voltando pra casa viu uma senhora passando do outro lado da rua e se sentiu envergonhado pensando em como estava seu cabelo.

Em casa, foi direto ao espelho, arrumou o cabelo e foi pra cama. Deitou então a cabeça no travesseiro e dormiu.