sexta-feira, 21 de março de 2008

O Covarde


Estava descabelado, andava cambaleando e seus olhos vermelhos eram conseqüência das drogas e lágrimas daquela noite. Sua roupa social, sempre elogiada pelos vizinhos, estava desengonçada.
Finalmente chegou em casa. Soluçava e tremia enquanto tentava colocar a chave no buraco da fechadura. Depois de alguns segundos, finalmente conseguiu.
Ao dar o primeiro passo para dentro de casa deixou seu corpo cair, se contorcia no chão, chorava e soluçava.
Podia-se ouvir entre os seus choros e soluços:

- Pra que veio, amor? Pra que veio se não foi pra amar? Porque me tomou de tal maneira que eu não posso voltar?

Ele levantou e escorando na parede seguiu até o quarto, mais uma vez deixou seu corpo ir ao chão. Arrastando ele se aproximou de um armarinho onde pegou o telefone, digitou uma seqüência de números e aguardou soluçando que atendessem. Ao atenderem disse:

-O adeus que você me deu doeu, levou de mim o meu eu, minha vontade de viver, de seguir em frente. O adeus que te dou também doerá em você, mas esse não pelo amor, mas pelo remorso de não me amar, um remorso de uma coisa que na verdade sei que você não tem culpa.
Meu adeus é covarde, porque sempre fui covarde, não tenho coragem de viver assim. E só o fim é um alívio.
Adeus...


Ele então solta o telefone mesmo sem desliga-lo e segue se arrastando até o armário, abre a porta do armário e jogando todas as roupas ali presentes para fora, pega no fundo do armário um revólver, que lhe faz dar um tempo no choro, respirar fundo e admira-lo.
Escorando na parede ele levanta, coloca a arma na boca e atira.

Um comentário:

Tai Ramos disse...

Cara, isso foi tão real.
Arrepiei.
Escreve muito bem!

;*